11 outubro, 2006

Filha de vítima pressentiu acidente e morte


A menina Hannah Kowalski, 6 anos, pressentiu a morte do pai, o antropólogo alemão Andreas Kowalski, 41 anos, uma semana antes da queda do Boeing 737-800 da Gol, no último dia 29. A revelação foi feita pela criança na sala de aula, entre soluços, à professora. "O avião do meu pai vai explodir", disse a menina.
No dia e horário do acidente, segundo relato de uma vizinha de Hannah, a menina disse que o avião onde o pai viajava tinha explodido. A menina teria feito a afirmação quando visitava uma amiga, perto de casa, em Brasília (DF). Por volta das 17h do dia 29 de setembro, o Boeing da Gol caiu na fronteira entre o Mato Grosso e o Pará, com o pai de Hannah e outras 153 pessoas a bordo. Todos morreram.
A aparente premonição de Hannah foi relatada pela professora e a vizinha à mãe da garota, a jornalista maranhense Dalva Veloso Kowalski, 46. Ela não se preocupou em pincípio, creditando as frases a um sonho ou influência da televisão. "Eu vi, mas o meu pai estava do lado de fora", contou a menina, já depois da queda do avião. "Agora, meu pai é um anjo", disse.
Hannah demorou para aceitar a morte do pai. "Inventava desculpas para a ausência dele, dizia que já viria em outro vôo", conta Dalva, ela mesma, ainda incrédula com a brusca mudança de vida. "Ainda não acredito que ele não vai voltar", confessa a jornalista, que só se refere ao marido conjugando os verbos no presente.
Andreas, que vivia com a família em Brasília há dois anos, estava na Amazônia ajudando amigo a comprar peças indígenas para museu na Áustria. Após cinco semanas, deu uma parada rápida na capital para matar as saudades da filha e voltou. "Ele foi até o shopping, programa que detestava. Parece até que estava se despedindo", lembra Dalva.
A jornalista relembra os primeiros momentos no aeroporto, quando piscava no painel "Vôo 1907 - procurar companhia" e ouvia alguém dizer "parece que teve um acidente". "Achava que o avião tinha pousado, que ele estaria ajudando os outros. Sou jornalista, sei que um avião não desaparece simplesmente. Mas precisava acreditar naquilo", relatou Dalva, ontem, após ter cremado o corpo do marido. Dalva agora planeja voltar a viver na Alemanha, para onde vão as cinzas de Andreas. Lá também foi onde a filha nasceu e vivem os sogros.
O ministro da Defesa Waldir Pires afirmou ontem que os pilotos americanos não precisam mais permanecer no Brasil pois isso não é mais fundamental para as investigações. "É decisão judicial (a de mantê-los aqui). Não é do governo brasileiro", afirmou. Ele voltou a dizer que o piloto Joseph Lepore foi "leviano ao afirmar categoricamente que teria de voar a 37 mil pés" entre Brasília e Manaus.
Pires já havia usado o termo na segunda-feira quando se referiu à informação de Lepore de que voava a 37 mil pés seguindo plano de vôo da Embraer. A Polícia Civil de Mato Grosso vai ouvir novamente os pilotos Lepore e Jan Paul Paladino. Em depoimento, os pilotos disseram que deveriam voar a 37 mil pés, mas foram desmentidos pelo plano de vôo.

"Ela diz que o pai vai voltar" "
Hannah bloqueou a morte do pai. Ela não fala sobre isso e pede pra eu parar de chorar porque ele vai voltar. Quando ela disse que o avião do pai tinha explodido foi exatamente a hora em que ele estava caindo. O Andreas era tão apaixonado pela filha que deve ter pensado nela nessa hora e ela deve ter sentido ou visto alguma coisa. Não entendo como alguém que foi à Guerra do Kosovo dar ajuda humanitária, que passou por tanta coisa, foi morrer logo num acidente do avião."

FONTE: TERRA