05 fevereiro, 2007

PM busca bandidos em favelas após sete mortes

Subiu para sete o número de mortos na guerra entre traficantes do Comando Vermelho (CV) e integrantes de milícias iniciada sábado na Ilha do Governador, na zona norte capital fluminense, e que deixou pelo menos dez pessoas feridas. A Polícia Militar, que tem três integrantes da corporação entre os mortos, realiza operação de busca aos criminosos em favelas da região. A violência se concentra na favela do Barbante e na vila Juaniza, ambas na Ilha do Governador, e na Cidade Alta, em Cordovil, onde traficantes tentam recuperar pontos de onde haviam sido expulsos.
Na última madrugada, o policial militar Moisés da Silva Coelho, 26 anos, foi seqüestrado e assassinado quando abastecia o carro próximo a um dos acessos da favela Cidade Alta, em Cordovil. Coelho estava à paisana, acompanhado de um amigo, quando criminosos surgiram e ordenaram que os dois entrassem no carro, segundo a rádio Jovem Pan.
O amigo conseguiu escapar, mas o PM foi encontrado morto, com vários tiros, na avenida Brasil. O tiroteio na região recomeçou neste domingo à noite, quando o corpo da sexta vítima foi encontrado pelos próprios parentes. O motoboy Fábio Fernandes Rocha, 29 anos, foi queimado e deixado no porta-malas de um Peugeot, próximo à estação de trem de Cordovil. Ele foi reconhecido por meio de uma cicatriz na perna esquerda e da arcada dentária.
No início da noite, a viúva do motoboy disse ter recebido telefonema anônimo informando da sua execução e onde encontraria o corpo. Os próprios parentes foram ao local e reconheceram a vítima.
De acordo com os parentes, Fábio teria sido mantido como refém pela milícia que ocupou a Cidade Alta, na madrugada de sábado, junto com outras três pessoas, que continuam desaparecidas. A família do motoboy havia registrado o caso na 38ª DP (Brás de Pina) como seqüestro e cárcere privado.


Toque de recolher

Segundo parentes, Fábio tomava cerveja em bar próximo de casa, quando foi espancado e algemado por milicianos. Ele teria sido levado para a quadra com mais três pessoas, onde ficou preso. No mesmo local, também estaria corpo de uma pessoa que os moradores desconfiam ser de traficante conhecido como Arilson. Moradores denunciaram ainda que a milícia determinou toque de recolher e bloqueou as principais ruas do conjunto com barricadas.
No primeiro ataque, sábado à noite, às duas comunidades da Ilha, quatro pessoas morreram e duas foram baleadas, mas os bandidos que haviam saído em dezembro não conseguiram retomar os locais. Já em Cordovil, traficantes retornaram ao conjunto habitacional um dia dia após invasão de milicianos, feita com ajuda de blindado da PM, de acordo com moradores.
Durante o confronto na Cidade Alta, foi morto o sargento Alex Sarmento Mendes, lotado na Diretoria Geral de Pessoal e suspeito de integrar o grupo armado. Seis pessoas ficaram feridas, entre elas menino de 11 anos. Poucas horas antes, quatro carros foram roubados na região, para formar o comboio que invadiu o conjunto. Nos assaltos, mulher foi baleada de raspão no joelho e bandido levou três tiros de fuzil nas costas.

Na hora da feira

Às 6h deste domingo, feirantes montavam suas barracas na rua principal da Cidade Alta, quando traficantes chegaram em diversos carros, atirando granadas. O sargento Alex foi baleado no olho. Logo depois, o sargento Antônio Souza dos Santos foi atingindo no braço e tórax. Ele está internado no Hospital da PM, no Estácio.
O menino Rafael Silva de Oliveira, 11 anos, ajudava a tia a montar a barraca e precisou se jogar debaixo de um caminhão para se proteger das explosões de granadas, mas foi atingido por estilhaços nas pernas. O feirante Lorisvaldo Gomes Brito, 25, foi socorrido por colegas numa Kombi após levar tiro de raspão na barriga.
Os outros feridos foram a aposentada Maria Osmarina de Mello Souza, 67 anos, baleada na perna; Emilson Ângelo de Oliveira, 31, atingido na barriga; e Rodrigo Alves Catureba, 18, ferido na mão esquerda. Segundo parentes de Rodrigo, o ajudante de caminhão voltava com amigos de baile funk na Chatuba, na Penha. Apenas Emilson e Rodrigo continuam internados no hospital Getúlio Vargas. Depois do confronto, para conter tumultos, policiais do 16º BPM (Olaria) passaram o dia nas entradas do conjunto.

Show de Elymar interrompido

A invasão da milícia ocorreu na madrugada de sábado e foi presenciada pelo cantor Elymar Santos, que fazia show na Cidade Alta. Por volta de 1h, o cantor foi obrigado a sair do palco. O som foi desligado e o clima ficou tenso na quadra do Bloco Barriga, onde havia cerca de mil pessoas. "Policiais foram ao camarim pedir desculpas e falar que a gente poderia continuar, porque era apenas uma operação de rotina. Cantei por mais duas horas".
Segundo o cantor, os policiais estavam armados, mas não vestiam fardas. "No caminho até a Avenida Brasil havia vários policiais. Ouvi dizer que eles eram conhecidos da comunidade e que os moradores já sabiam que ia acontecer a operação", contou Elymar.
Roubo de carros na véspera Na noite anterior à retomada da Cidade Alta por traficantes, grupo de seis bandidos armados promoveu uma série de roubos de carros na Avenida Brasil, próximo ao Trevo das Margaridas, no Jardim América, onde houve falsa blitz. Policiais do Batalhão de Vias Especiais passavam na hora pelo local e trocaram tiros com bandidos. Fábio de Lima, 23 anos, foi preso enquanto fugia em um Pólo preto.
Fábio levou três três tiros nas costas e está no Hospital Getúlio Vargas sob custódia da polícia. Foram registrados quatro roubos de automóveis. Edvani Santos da Silva, 52 anos, viajava em ônibus da Viação 1001 próximo ao local e foi atingida no joelho esquerdo. A polícia informou se os ataques têm ligação com a invasão à favela.
Nos últimos meses, a Cidade Alta passou a abrigar traficantes do Comando Vermelho expulsos de favelas ocupadas por milícias, como Kelson¿s e Quitungo, ambas na Penha. De lá também saíram, segundo investigações, os criminosos acusados de incendiar ônibus da Viação Itapemirim, em 28 de dezembro. No atentado, que seria retaliação à expansão das milícias, oito inocentes morreram carbonizados.

FONTE: TERRA