12 outubro, 2006

Cristo Redentor, declarado novo santuário do Brasil ao completar 75 anos hoje


A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro está em festa pelos 75 anos que a estátua-monumento do Cristo Redentor completou no dia 12 de outubro, do corrente ano. Temos a grande honra de haver erigido o mais eminente monumento brasileiro à fé católica que, segundo peritos em arte, pode ser arrolado entre as sete maiores maravilhas do mundo moderno.Recordamos, aqui, algumas etapas do processo que levou à execução desta grandiosa obra. A idéia pioneira partiu da Princesa Isabel, para comemorar a libertação dos escravos. Para tanto, no dia 2 de agosto de 1888, ela propôs a construção, no morro do Corcovado, de uma imagem do Coração de Jesus, o Coração que tanto amou e sofreu. Posteriormente, no ano de 1921, o General Pedro Carolino Pinto de Almeida, através de uma associação chamada “Círculo Católico”, levantou novamente esta tese: um monumento a Jesus Cristo, abençoando o Rio de Janeiro, do alto do Pão de Açúcar. Aprovou-se a idéia da construção desse monumento por D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, o primeiro Cardeal do Brasil e da América Latina. O local da obra foi objeto de votação popular, para escolha entre os Morros de Santo Antônio, Pão de Açúcar e Corcovado. Este último foi apontado por ampla maioria de votos. A seguir, foram apresentados três projetos arquitetônicos para o monumento, dentre os quais foi vencedor o de Heitor da Silva Costa. Aqui entra um elemento extraordinário, demonstrando o firme desejo do povo em levar adiante esse projeto: foram reunidas mais de 20.000 assinaturas de mulheres, sob a liderança da escritora Laurita Lacerda, pedindo autorização ao então Presidente Epitácio Pessoa para a construção da imagem no Corcovado.O Cardeal Sebastião Leme, homem muito ponderado e dotado de grande senso de organização, virtudes que marcaram sua linha pastoral, compôs duas comissões para trabalharem nesse plano. Em 1922, deu-se a bênção da pedra fundamental. Finalmente, no dia 10 de março de 1924, com o projeto definitivamente aprovado, Heitor da Silva Costa viajou para a Europa a fim de conseguir a maquete do monumento. O protótipo, em gesso, foi executado pelo escultor francês Maximilien Paul Landowski. A obra representou grandes desafios, pela imensa dificuldade encontrada na sua execução, como transpor o precipício que leva ao cume do Morro, e gerenciar os parcos recursos disponíveis. Mas, com a conjugação de todos os esforços, sempre liderados pelo Cardeal Sebastião Leme, chegou-se à sua conclusão em 1931, sendo a inauguração solene no dia 12 de outubro daquele ano. É bom que todos os nossos amigos do Brasil, e especialmente do Rio de Janeiro, saibam que esta obra foi financiada pelas doações dos católicos, desde ricas damas da sociedade, até humildes trabalhadores. E, inclusive, há um pormenor: até indígenas ajudaram, com suas pequenas esmolas, para a construção do colossal monumento ao Cristo Redentor. Além dos dados históricos e arquitetônicos, é fundamental recordar o sentido espiritual do Cristo Redentor. Seria impossível, neste pequeno espaço, esgotarmos o assunto. Por isso, recomendo a leitura do opúsculo “Cristo Redentor do Corcovado, mensagem religiosa e história”, obra relativamente sintética, mas de muito conteúdo, de autoria do excelente professor de história Mons. Dr. Maurilio Cesar de Lima. Nela aparecem as principais informações sobre o Cristo Redentor, enfatizando o seu sentido religioso, que sempre foi o significado primeiro do monumento. O apelo turístico é tão somente uma decorrência da sua beleza e originalidade arquitetônica, aliada à beleza natural de nossa cidade, tornando-o uma atração que encanta a quantos a conhecem e visitam.Com o mesmo enfoque, de cunho mais didático, é a obra da professora Renata de Faria Pereira: “O Cristo Redentor do Corcovado, uma lição de amor”. É um presente dedicado às crianças, muito bem elaborado e adaptado a elas, tanto na cuidadosa apresentação, quanto no conteúdo, de profundidade teológica, em linguagem simples e clara, acessível aos pequenos catequizandos.Quero tornar público meu agradecimento aos autores destes dois opúsculos, editados pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, pela inestimável contribuição ao nosso objetivo de divulgar melhor a mensagem espiritual do monumento do Corcovado.Ressalta-se a Redenção e a Salvação da humanidade, que Cristo nos mereceu. Erguendo os olhos para o Corcovado, lembramo-nos do Monte Calvário. Lá está o Cristo em forma de uma cruz, ponto fundamental da Redenção, o alfa e o ômega de toda a história, a nos recordar que sua própria morte conquistou a Ressurreição, a vinda do Espírito Santo e o infinito tesouro de graças, mediante as quais somos santificados e salvos. Como diz São Pedro: “Pois sabeis que não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo” (1Pd 1,18-19). Na estátua do Corcovado, as chagas das mãos e dos pés, o Coração transpassado e ferido - idéia muito acentuada pela Princesa Isabel – configuram-se a todas as dores humanas que Cristo assumiu, inclusive a escravatura e todas as outras terríveis injustiças sociais que têm manchado a história do nosso país.Precisamos ir ao Corcovado, não apenas para contemplar a beleza do Rio de Janeiro, mas para contemplá-la como obra da Criação divina. E ali está a figura do Cristo, único Mediador entre o céu e a terra, oferecendo-nos os braços abertos, para nos acolher. Quem se coloca aos pés da imagem, tem uma vista panorâmica de nossa cidade, tamanha beleza na qual se conjugam a arte divina e a arte humana, como já observara o Papa João Paulo II. Diante de tudo isto, é preciso, também, deixarmo-nos interpelar a respeito de nossa própria vida, e de nossos atos. Nenhum de nós, desde que tenha o coração aberto, pode ignorar a pergunta que permanece, como que subjacente, naquele lugar: “Olhem o que eu fiz. E vocês, o que farão agora?” Por isso, devem nos chocar e mobilizar os agudos contrastes sociais e humanos que vemos, do alto do morro, espelhados na tristeza das favelas e outras mais... Nosso povo tem fé, manifestada numa religiosidade nem sempre tão profunda, porém confiante no poder, na misericórdia e na proteção de Deus, sobre todo o Brasil e sobre o mundo. Por isso, queremos que esta festa dos 75 anos suscite um novo impulso de espiritualidade, um maior reconhecimento da sacralidade do Corcovado. Na Antiga Aliança, Javé falou a Moisés: “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é sagrado” (Ex 3,5). Portanto, é preciso pisar ali com simplicidade e humildade. Assim deve ser o Corcovado para todos nós. A capela do monumento está passando por uma cuidadosa restauração, e nela já estamos celebrando, diariamente, o santo Sacrifício da Missa. Além disto, temos recebido colaboração de muitas pessoas, para a própria segurança do local e das pessoas que para lá “peregrinarem”. Desejamos que todos os visitantes do Corcovado possam receber uma mensagem espiritual, que se inspira na própria figura do Cristo Redentor e vai fecundar o íntimo dos corações, para que a beleza exterior possa contribuir para a riqueza interior que cada pessoa traz em si, como “imagem e semelhança do próprio Criador” (cf. Gn 1,26).

FONTE: UOL