22 novembro, 2006

Idosa presencia assassinato do filho no Rio

Ramira Lima de Oliveira, 76 anos, presenciou nesta terça-feira o assassinato do filho Lourival Teodoro de Oliveira, 45 anos, na Penha, na capital fluminense. Ela perdeu 14 dos seus 15 filhos. Ramira conversava com o filho quando começou a ouvir os tiros ecoando pelas vielas da Travessa Santa Luzia, na Favela Kelson´s. Eram pouco mais de 9h. Um Toyota Corolla verde parou e dois homens começaram a atirar. Segundo testemunhas, eles eram traficantes do Comando Vermelho (CV) que controlavam as bocas de fumo da comunidade até mês passado, quando foram expulsos por uma milícia.
"Se Deus me tirou outros 13 filhos, é porque sabia o que estava fazendo. Ele sempre me deu paz para aliviar o sofrimento. Então, se eu reclamasse de alguma coisa, seria até pecado. Mas esse eu não consigo me conformar. Foi uma coisa injusta", desabafou, às lágrimas, com as mãos trêmulas que mal equilibravam um copo de chá de erva-cidreira.
Seis horas trancada Abaixada atrás do balcão, a mãe tentava chamar o filho para dentro da quitanda enquanto fechava as portas. Tarde demais. Lourival havia sido atingido no peito e no pescoço. "Saí quando meu neto gritou e vi meu filho no chão, banhado de sangue. Voltei para a casa. Não queria ver mais nada".
A imagem que Dona Ramira quer guardar do filho é a dele vivo, ajudando-a na quitanda. Para não vê-lo morto, teve que ficar seis horas trancada em casa à espera do rabecão que levaria o corpo ao Instituto Médico-Legal.
"Nunca fui a um enterro. Nem dos meus filhos nem do meu marido. Quero ter na minha mente a lembrança deles vivos", disse. Quem acompanhou a remoção do corpo de Lourival foi o único dos 15 irmãos que sobreviveu, o vigia João Teodoro de Oliveira, 49 anos.
Dona Ramira, que chegou à Kelson's vinda de Campina Grande, Paraíba, em 1957, estava revoltada com a violência com que se acostumou a conviver.
"Vi vagabundo com tudo que é arma, mas dei formação para meus filhos ficarem longe do crime. Agora que a Kelson's ficou tranqüila, eles voltam e fazem essa covardia".
Mais dois feridos no ataque Duas pessoas ficaram feridas no ataque de traficantes na Favela Kelson's ontem. Cristiane Nunes Lopes, 28 anos, que acabara de sair de casa para fazer compras no mercado, foi atingida no braço direito. Maria de Fátima Carlos do Nascimento falava no telefone público quando foi baleada no braço e na perna direita.
Levadas pela PM para o hospital Getúlio Vargas, na Penha, elas passam bem. Segundo a 22ª DP (Penha), os traficantes Sapão e Birró, expulsos da favela e hoje abrigados na Cidade Alta, em Cordovil, teriam participado do ataque de ontem.

FONTE: TERRA