17 novembro, 2006

Torre e pilotos tentaram contato antes de acidente da Gol


BRASÍLIA (Reuters) - Pilotos e controladores de vôo tentaram sem sucesso vários contatos nos minutos anteriores ao acidente com o Boeing da Gol, o pior desastre aéreo da história do Brasil, informou na quinta-feira um relatório preliminar da Aeronáutica que não aponta culpados.
O relatório apresenta informações básicas sobre os vôos e as comunicações por rádio, mas não tira conclusões a partir de detalhes das caixas-pretas de voz e dados, que ainda serão analisados durante meses.
"Até agora, não tenho uma forma de dizer com exata certeza como os aviões colidiram", disse o coronel Rufino Antônio da Silva Ferreira, presidente da comissão de investigação do acidente com o vôo 1907. "Precisamos ter a mente aberta, não ter noções preconcebidas."
O relatório apontou que os pilotos do Legacy ficaram quase uma hora sem tentar contatos com os controladores de vôo após passarem por Brasília. A colisão ocorreu seis minutos depois da primeira tentativa de contato e três minutos após a última.
Em Brasília, os controladores do tráfego aéreo só tentaram contatar o Legacy 20 minutos depois da passagem do jato pela cidade, mas Rufino disse que ainda espera por "um bom momento" para conversar com os controladores envolvidos.
"Os controladores de vôo serão uma peça fundamental", disse.
"Quanto mais cooperativa for a entrevista, melhor nós vamos ter condição de fazer recomendações de melhorar alguma situação de risco que possa estar acontecendo no ambiente em que aquela pessoa está e logicamente melhorar as condições de segurança de trabalho".
No dia 29 de setembro, um Boeing 737-800 da Gol com 154 pessoas a bordo e um jato executivo Legacy, de fabricação da Embraer e operado pela norte-americana ExcelAire Service, se chocaram no ar.
O Boeing caiu no Mato Grosso, enquanto o Legacy, com sete ocupantes, conseguiu fazer um pouso de emergência em uma base aérea no sul do Pará. Todos as 154 pessoas que estavam a bordo do avião da Gol morreram.
Os investigadores tentam descobrir por que nenhum dos contatos teve resposta, apesar de dezenas de tentativas, por que os sistemas anticolisão dos dois aviões não alertaram para a rota de choque e por que ambos voavam nos mesmos 37 mil pés de altitude.
Os advogados dos pilotos do Legacy Joe Lepore e Jan Paladino, cujos passaportes estão retidos desde o acidente, tiveram nesta semana pedido negado pela Justiça para que seus documentos fossem devolvidos.
Rufino disse que a permanência dos pilotos no país "nada tem a ver" com a investigação promovida pela Aeronáutica. Ele acrescentou que nenhum dos envolvidos é obrigado a depor para os investigadores, mas disse que os pilotos norte-americanos têm cooperado com as investigações.
O coronel, no entanto, se recusou a divulgar a descrição dada pelos pilotos sobre o momento que perderam contato via rádio até a hora do acidente. O militar adiantou que pretende ouvi-los novamente.
Parentes das vítimas do acidente entraram com processos nos Estados Unidos contra a ExcelAire e a Honeywell International, empresa que fabricou o transponder (equipamento anticolisão) do Legacy.
Os advogados alegam que os pilotos do Legacy voavam na altitude errada e que há indícios de que o transponder não teria funcionado corretamente.
A Honeywell nega que o transponder tenha sido a causa do acidente. A ExcelAire diz que seus pilotos serão absolvidos, pois cumpriam as instruções do controle de tráfego aéreo.

FONTE: UOL