13 dezembro, 2006

Neto de general de Allende cospe em Pinochet


O neto do ex-general chileno Carlos Prats - antecessor de Augusto Pinochet na chefia do Exército no governo de Salvador Allende - passou mais de cinco horas na fila no funeral do ex-ditador, na Escola Militar, e cuspiu quando chegou em frente ao caixão.
Seguidores de Pinochet que estavam na mesma fila reagiram, tentando atacá-lo.
"Eu vi um homem que cuspiu o féretro do meu general e reagi, parti pra cima dele", disse uma simpatizante do general.
Mais tarde, o neto de Prats, Francisco Quadrado Prats, contou: "Era minha última oportunidade de agredi-lo, de demonstrar minha revolta pelo que fez com meus avós e toda minha família".
O fato ocorreu na madrugada de terça-feira, mas só foi divulgado e confirmado horas mais tarde.
Assassinato

Carlos Prats e a mulher, Sofía Cuthbert, foram asssinados, em 1974, num atentado quando uma bomba explodiu no carro que usavam em Buenos Aires, na Argentina.
Eles estavam exilados naquele segundo ano de Pinochet no poder. Pinochet assumiu a presidência depois de ter liderado um golpe, com bombas e canhões, contra o palácio presidencial de La Moneda, ocupado pelo socialista Salvador Allende.
Ao protesto do neto de Prats, no dia do funeral de Pinochet, somou-se uma manifestação de estudantes que queimaram um caixão improvisado, simbolizando a morte do ex-ditador.
Antes de morrer, no domingo passado, Pinochet estava sendo processado, entre outros casos, pelo atentado contra o casal Prats e pelo assassinato do ex-chanceler socialista Orlando Letelier, morto num atentado organizado por policiais de Pinochet, em Washington, nos Estados Unidos.
Pinochet também era acusado de organizar a "Operação Condor" - coordenação da repressão das ditaduras dos países do Cone Sul na década de 1970.

"Feridas abertas"

Segundo organizações de direitos humanos, a "herança do general" inclui 3 mil desaparecidos políticos e quase 30 mil torturados - entre eles a atual presidente do Chile, Michelle Bachelet.
Por estes e outros casos, uma das filhas de Salvador Allende, Carmen Paz Allende, justificou sua presença, numa das raras vezes, numa manifestação pelo pai, que, oficialmente, se suicidou ao ser alvo do golpe de Pinochet, em setembro de 1973.
"São tantas feridas abertas. Tantos processos judiciais sem resposta. Eu só lamento, lamento e lamento muito que Pinochet tenha morrido sem responder por tantos crimes", disse.
De acordo com advogados de direitos humanos, familiares de Pinochet deverão responder pelas denúncias contra o ex-ditador que começaram a ser conhecidas, em todo o país, a partir de 1998, oito anos depois que ele passou o poder para o presidente Patrício Alwin.

FONTE: TERRA