23 janeiro, 2007

Psicólogo estuda mulher que ficou 19 anos na selva

Um psicólogo espanhol da Universidade de Oviedo, no norte da Espanha, chegou hoje ao povoado de Oyadaw, no nordeste do Camboja, para estudar o caso e ajudar na readaptação da "mulher selvagem", encontrada na semana passada depois de viver 19 anos na selva.
Héctor Rifá chegou hoje a esta localidade depois de levar 22 horas percorrendo 700 quilômetros a partir de Phnom Penh, a capital do país.
O psicólogo planeja passar uns dias com a mulher "para observar suas interações, como se relaciona com a família, com o povoado e para aconselhar a família sobre a melhor forma de adaptação", disse.
Rifá vive em Phnom Penh e trabalha para a Universidade de Oviedo dirigindo um projeto da ONG Psicólogos sem Fronteiras. Ele se interessou pelo caso quando soube da história de Rochom Pngieng, 28 anos, que teria se perdido na selva há 18 anos.
A jovem foi encontrada nua, desnutrida e sem capacidade para falar e foi identificada pelo policial Sal Lou e sua mulher como a menina que desapareceu há 18 anos enquanto cuidava do gado.
Ao chegar na casa da família, na localidade de Oyadaw, capital do distrito de mesmo nome, o psicólogo encontrou a mãe tirando piolhos do cabelo de sua suposta filha, que estava de cócoras debaixo de uma árvore. "Pensei que a encontraria mais assustada", disse Rifá, que, por enquanto, quer "observar quais são suas percepções e fazer exercícios para saber como está sua audição e a fala, e como reage diante de objetos como um espelho, e aos cheiros".
"Se ela realmente se perdeu aos 10 anos, tem que lembrar, por exemplo, o que bebia quando era pequena", disse.
"Quero observar e explorar, mas sem idéias pré-concebidas. Espero que só esteja desadaptada", afirmou o psicólogo, acrescentando que "ela não está doente, não é uma paciente, e, mentalmente, certamente estava bem até o dia em que a capturaram".
Segundo o psicólogo, além das quase duas décadas que passou na selva, é preciso levar em conta que, quando era menina, a família vivia em uma aldeia remota da mesma região. Há alguns anos, eles se mudaram para Oyadaw "e, embora seja campo, estão à beira de uma estrada, com televisão, carros", acrescentou.
"Agora é preciso recuperar o momento quando desapareceu e situá-la", afirmou, destacando que tentará adaptá-la entre a comunidade.
"São indígenas, não falam cambojano, e o melhor é que esteja o mais próxima possível das pessoas", disse Rifá.
Para isso, o psicólogo disse que pensa em passar uns dias "com a família, para observar as reações". Com uma esteira e um mosquiteiro, Rifá se instalará junto à família, a quem aconselhará que nomeie um porta-voz para diminuir o assédio da imprensa.
Rifá pretende ficar alguns dias no povoado e retornar novamente dentro de uma semana para continuar o estudo do caso.
A mulher apareceu no dia 13 de janeiro, quando tentava roubar comida de lenhadores, e foi apanhada e levada a Oyadaw. Os pais de Rochom Pngieng nunca perderam a esperança de encontrar a filha e um sobrinho que na época tinha apenas seis anos e desapareceu junto com a prima. Eles a identificaram rapidamente graças a uma cicatriz nas costas, segundo um porta-voz da polícia local.

FONTE: TERRA