16 novembro, 2006

Agente mandou buscar modelo devido à magreza


A magreza extrema perseguida pela modelo Ana Carolina Reston Macan, morta nesta terça-feira de complicações decorrentes de uma anorexia, no Estado de São Paulo, também a levou a perder oportunidades de trabalho fora do Brasil. Ela regressou ao País logo após terminar uma campanha para a marca Armani porque sua aparência preocupou a representante de sua agência no exterior. Mas essa preocupação não é a regra. Este ano, outra empresa, de Nova York, recomendou à modelo de São Paulo passar uma semana sem comer.
"A Carol chegou a fazer um catálogo para o (Giorgio) Armani, mas, pouco depois, a correspondente da agência lá me ligou dizendo que ela estava magra demais. Isso me pareceu preocupante vindo de uma profissional acostumada a lidar com modelos. Achamos melhor trazê-la de volta", conta a dona da L'Equipe, Lica Kohlrausch. A empresária confessa, no entanto, que não percebeu, ao olhar para a menina na volta, nenhum sinal físico de anorexia.
A diretora da agência paulista Trust/Mng, Melina Tavares, lembra o drama vivido por uma de suas modelos: "Recentemente, uma menina do meu elenco foi escolhida por importante agência de Nova York. Disseram que ela teria de ficar uma semana dormindo, sem comer, para se transformar numa top. Ficou combinado que ela comeria uma salada por dia. Queriam também fazer 50 aplicações de lipostabil, substância proibida no Brasil. Também não deixamos. Liguei para mãe dela e falei que virar top não valia este sacrifício e ela voltou".
Melina explica que o mercado internacional é muito mais exigente que o brasileiro. "As modelos sofrem muito por isso. A menina que está mais gordinha percebe que a magrinha trabalha mais que ela", revela.
"Elas são muito novas, moram sozinhas em apartamentos e freqüentam muitas baladas. Quem não tem estrutura se afunda. A família tem que estar sempre por perto", orienta. Letícia Birkheuer, que atuou na novela 'Belíssima' como Érica, endossa o conselho. "Muitas vezes, eu chegava exausta de um trabalho e minha mãe estava ali, lembrando que eu tinha que me alimentar de forma saudável".

Tops são apenas meninas

Ser magra virou, sim, uma obsessão, tanto para simples mortais quanto para as modelos que sonham ser uma nova Gisele Bündchen. Elas começam ainda crianças e, muitas vezes, se separam de suas famílias em busca do sonho fashion, que pode virar pesadelo.
As exigências são cruéis: é preciso estar dentro de medidas predeterminadas para conquistar um lugar ao sol. Não é de hoje que padrões estéticos atormentam a vida das mulheres, mas o que agrava a situação atual é a dimensão que o sonho de ser modelo alcançou. Nem sempre a genética contribui. Soma-se a isso a pressão de ganhar dinheiro, a ausência dos pais e a negligência de algumas agências para acabar em pesadelo. Pais, fiquem de olho: as tops são apenas meninas.

FONTE: TERRA